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terça-feira, 22 de março de 2011

Por que brigamos tanto?

Regina Lins fala do rancor matrimonial que muitos casais arrastam por anos


é psicanalista e escritora, autora do livro “A Cama na Varanda”, entre outros. Twitter: @reginanavarro

Sil e Afonso são casados há 12 anos e têm três filhos. Afonso chegou tenso na última sessão de terapia e desabafou: “Nossa convivência está se tornando insuportável. Não sei por quanto tempo mais vou aguentar. Brigamos por qualquer coisa. Ontem, combinamos um cinema. Mas liguei para Sil pedindo para irmos hoje porque eu estava exausto. Pronto. Foi motivo para discussão a noite inteira. Parece que o carinho que havia entre nós foi substituído por uma raiva, que nem sempre conseguimos segurar. Pior é quando acontece na frente de outras pessoas. No sábado passado, quando estávamos saindo com um casal amigo para almoçar, a briga foi por causa de uma vaga para estacionar o carro. O clima ficou péssimo. As pessoas ficam sem jeito e nunca sei como contornar a situação. Parece que é impossível vivermos em paz. Eu sei que a culpa não é só dela. Também fico sem paciência e, em alguns momentos, digo coisas agressivas. Na verdade, o grande mistério de tudo isso é entender por qual motivo ainda ficamos juntos.

É muito desagradável conviver com um casal que briga. Porém, juntos há muito tempo, não percebem o absurdo de se viver dessa forma. Quando saem com um grupo de amigos e praticamente não precisam se comunicar, ainda passa. Mas quando só há mais uma ou duas pessoas, então a situação tende a ficar tensa. Muitas vezes o casal aproveita justamente a presença dos outros para se agredir, criando uma situação constrangedora – mesmo que os ataques sejam sutis e disfarçados.

“Não conheço rancor pior que o matrimonial. A cara das pessoas nessas situações fica de uma feiúra moral que assusta. O clima em torno dos dois é literalmente irrespirável, sobretudo por acreditarem que ambos têm razão”, afirma o psicoterapeuta e escritor José Ângelo Gaiarsa. Para ele, o rancor matrimonial, acima de tudo, amarra, pega você de qualquer jeito e te imobiliza como se você tivesse caído numa teia de aranha. E quanto mais você se mexe, mais se amargura e raiva sente. Raiva – que faz brigar; mágoa – que faz chorar. A mistura das duas é o rancor. É ficar balançando muito e por muito tempo entre o homicídio e o suicídio. E cometendo ambos ao mesmo tempo.

Mas será que Sil e Afonso sabem por qual razão começam a brigar? Provavelmente não. Entretanto, o que menos importa é o tema da briga; por qualquer motivo o rancor que existe e que se tenta negar escapa, sem controle. As brigas também podem ser silenciosas. Caras, olhares, gestos, tons de voz, ironias disfarçadas, tudo tornando bem desagradável o dia a dia do casal. Alguns chegam ao ponto de, após anos de vida em comum, ir deixando de falar com o outro. Mas ficam ali, juntos, sem nem pensar em separação. “Casamento é assim mesmo...”, dizem.

A dependência emocional que se desenvolve entre marido e mulher dificulta a separação. É comum um precisar do outro para não se sentir sozinhos e, principalmente, para que ele(a) seja o depositário de suas limitações, fracassos, frustrações e também para responsabilizá-lo pela vida tediosa que levam. Quanto maior a defasagem entre a expectativa que tinham do casamento e a impossibilidade de concretizá-la, piores são as brigas.

Geralmente, quando as pessoas se casam alimentam a expectativa de que vão se tornar um só, que terão todas as necessidades satisfeitas pelo outro. Com o tempo, essa fantasia deixa de existir. Virginia Sapir, uma terapeuta de família conhecida no mundo todo, afirma que o sentimento mais comum entre os casais é o desprezo recíproco. Parece que se despreza o outro por ter falhado na sua principal função: tornar a vida do parceiro plena e interessante. Gaiarsa, com sua prática clínica de mais de 50 anos, acrescenta: “Esse rancor matrimonial é a coisa mais peçonhenta, amarga, azeda e torturante de que tenho notícia ou experiência. Sim, experiência – terrível. Quem não a tem vez por outra? Mas quando ela dura muitos meses – até muitos anos – é, na certa, o pior veneno que se pode imaginar”.

Contudo, sou otimista quanto às mudanças. Homens e mulheres já começam a perceber as mentiras do amor romântico e estão se dando conta de que a complementação por meio do outro não passa de uma ilusão. Com isso, diminui muito a disposição para sacrifícios visando manter uma relação. Hoje, ao contrário de outras épocas, é comum haver vários interesses além dos amorosos e já encontramos quem acredite que se desenvolver como pessoa é mais importante do que ter alguém ao lado.

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Perguntei para algumas pessoas quais são as razões pelas quais os casais brigam. A seguir, o que eles pensam:

Zélia Duncan (cantora e compositora)
O mais difícil é você detectar onde está a individualidade do outro... onde está aquele pedaço que, por mais que você divida tudo, nunca vai chegar. Se você acha que chegou é uma ilusão. Está invadindo ou reprimindo a pessoa. É difícil detectar isso quando se está vivendo junto todo dia. Às vezes existem coisas que me irritam, mas não me dizem respeito... é muito difícil sacar essa fronteira.

Nana Caymmi (cantora)
Tudo é por causa dos problemas financeiros. As brigas todas e bebedeiras são porque as pessoas gastam mais do que podem. Para mim a relação vai para a cucuia, não é por falta de amor não. É por ter que pagar o aluguel e tudo mais. O dinheiro é primordial, é só ler o jornal e você não vê um barraco que não seja por dinheiro.

Léo Jaime (cantor e compositor)
Homens são bobos e mulheres são chatas. No fundo o homem sabe que ela vai chateá-lo até que, por ela, ele venha a perder o tesão. Ela chateará pensando em fazê-lo deixar de ser bobo. O homem se casa pensando que ela não vai mudar e ela muda; a mulher se casa pensando que vai conseguir mudá-lo e ele não muda.

Elza Soares (cantora)
A coisa mais difícil na vida do casal é o banheiro. A toalha no chão também começa a complicar a cabeça. E aquelas roncadinhas estranhas... A gente acorda muito feia, tem que dormir maquiada. E de madrugada é bom ir até o banheiro e passar um batonzinho.

Evandro Mesquita (ator e cantor)
A principal coisa é que os dois não tentem ser um só. Cada um tem que ter sua individualidade, ter até um espaço físico próprio em casa. As diferenças de cada um não devem ser obstáculos, e sim motivo de encantamento pela surpresa que causam.

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